olho por olho

Sou um simples assalariado daqueles que têm sorte em manter o posto de trabalho. Desde que comecei a ser governado em democracia e tirando curtos episódios, vi  a minha qualidade de vida a detiorar-se. Já aqui escrevi que só este ano para manter os meus filhos no serviço público escolar vi-me entre livros, cadernos, compassos, mochilas, equipamentos para desporto, etc... desembolsar mais de 600 euros. Este ano vou ver as minhas deduções para o irs sofrerem mais uns cortes, entretanto vou pagar mais pelas consultas que não faço nos centros de saúde, como se não bastasse aumentaram os transportes, a electricidade, a água, as deduções do meu empréstimo bancário para habitação, a taxa de iva vai aumentar etc....
Entretanto, vejo que novos sacrifícios vão ser pedidos aos portugueses, para que seja cumprido um rigoroso plano da troika a fim de "salvar" o meu país da banca rota, coisa para a qual não contribuí em nada, mas também vou ter de pagar.
Hoje numa revista lia com particular atenção as obras efectuadas na ilha da Madeira pelo AJJ. Desde uma piscina que após a inauguração durou 4 meses aberta, uma marina que não tem um único barco, um heliporto onde não pousam helicópteros, uma estrada que custou um milhão para dar acesso a duas casas etc. Mas não é só na Madeira que estes desvairos se dão. As autarquias estão endividadas, Gaia é uma das câmaras mais endividadas do País, mas tem obra. Enquanto os desempregados na região Norte não para de aumentar, faz-se um funicular que custou milhões, Pensa-se em novas pontes para atravessar o Douro (como se ninguém passasse pela ponte do Infante e percebesse que a taxa de viaturas que a atravessam é ridícula). Em termos de autarquias nimguém, pode atirar pedras para os telhados dos outros todos nós conhecemos casos idênticos de obras, que teriam o seu dinheiro melhor empregue no apoio ao emprego por exemplo.
Voltando aos assalariados, está em debate uma proposta que irá flexibilizar os despedimentos. Esta lei entre outras coisas irá permitir que se despeça um funcionário pelo não cumprimento dos objectivos que são impostos pela empresa. A minha esperança é que a ser aprovado esta proposta seja extensível aos políticos portugueses e que possamos não ao fim de 4 anos poder despedir os governos, os presidentes de câmara enfim a classe política por não terem cumprido aquilo a que se comprometeram fazer. 

Ao meu amigo Zeca

O meu amigo Zeca é um daqueles amigos que é muito mais do que isto. É um irmão mais velho, é o confidente, é o companheiro e é aquele com quem nós podemos sempre contar. O Zeca é da família, da minha e tenho a certeza que de muitos. Falta esclarecer que o Zeca é padre. Não, não é um padre qualquer, muito menos é o padre da virgararia do Porto. É o meu padre.
Posto isto, passo a explicar a razão deste texto. O meu padre é um daqueles que foi capaz de fazer a diferença por onde passou, conseguiu, tirar da miséria muita gente que vivia na mata da pasteleira em condições deploráveis, foi um dos principais activistas do movimento de libertação por Timor Leste, foi pela mão dele que foi criado o movimento fé e luz um movimento que tem como fim apoiar crianças e adultos com deficiências profundas, foi ele que construiu um centro para apoiar a criança e o jovem em risco tirando assim, muitas crianças do flagelo da droga. Enfim o Zeca fez muito mais do que muitos políticos que conheço com a diferença de que nunca pediu nada em troca. Ele é assim, desprendido das coisas mas não das pessoas. 
O Zeca foi afastado da sua paróquia onde exercia há mais de 40 anos pela mão de um bispo. Lá diz o ditado que à mulher de César não basta sé-lo tem de parecê-lo. É minha profunda convicção que a este Bispo que tão bom nome grangeia entre as elites, mais dia menos dia vai-se perceber que ao contrário do ditado parece mais do que aquilo que quer transmitir ser.
 Bem sei que existe o dever de obediência de um pároco para com o seu bispo, mas também existem normas que devem ser respeitadas, entre elas a que determina que a partir de uma certa idade um padre não pode ser mudado de paróquia. Aquilo que fizeram ao meu Zeca não se faz. Vale-lhe a ele que não está, nunca esteve e nunca estará sózinho, tem-me a mim como a muita gente junto dele. Porque padres como este já não existem muitos.