Sem abrigo

Por força das circunstâncias atravessei hoje de manhã bem cedo,a minha cidade do Porto com uma tranquilidade que não me é habitual. Gostaria de possuir o elixir para prolongar este estado de alma por tempos infinitos. A forma vagarosa com que tive a oportunidade de vaguear pelo centro da cidade permitiu-me "ver" a minha cidade com mais detalhe do que aquele que me é habitualmente permitido. A cidade do Porto é uma cidade pequena, com uma arquitetura ímpar e recheada de gente boa. No entanto hoje não gostei do que vi. Aquela ideia que todos nós temos sobre o empobrecimento do país permitiu-me verificar o multiplicar de homens e mulheres que dormem na rua à porta de estabelecimentos comerciais. Torna-se impressionante o numero de casos de sem abrigo que povoam de manhã bem cedo as entradas das lojas, dos prédios envoltos em cartões e alguns cobertores que mais não fazem do que proteger do frio mas deixando passar a chuva que incessantemente caía sobre a cidade logo pela manhã. Este não é o meu Porto. As gentes do Porto não são assim, ou pelo menos não eram. Esta cidade erguida ás custas de gente de trabalho, de gentes de garra, sem papas na língua não trata assim os seus. Talvez o desemprego generalizado que teima em ser maior na região norte do País explique alguma coisa. Esta visão perturbadora de sem abrigo que começam a repovoar a cidade é inadmíssível. A declaração universal dos direitos do homem não passa de um papel assinado cheio de boas intenções escrito na época por gente com ideais, mas que no tempo em que vivemos não é reconhecida pela maior parte dos nossos governantes. O direito à dignidade humana, o direito ao trabalho, o direito a ter um teto são palavras vãs. Triste mundo este.

A espuma dos dias

O clima depressivo em que vivemos, torna o dia-a-dia das pessoas compouco espaço para afetos, demosntrações de carinho e até para um simples telefonema a alguém que outrora foi presente na nossa vida e agora por uma qualquer razão se encontra mais afastado. Este vai e vem de dificuldades que nos entra pela televisão, pela rádio e até no nosso dia a dia com as pessoas que nos são mais próximas. Esquecemos-nos de dizer ao outro que gostamos dele, esquecemos-nos de dizer ao outro como andas? esquecemo-nos de um simples telefonema a dizer olá. Presumo que cada um de nós já sentiu isto na sua vida. O curiosos é que nos encontramos numa altura em que nos sentimos mais necessitados de atenção por parte da família, do amigo, do colega de trabalho etc...O que nos falta então para que esta vontade de agarrar no telefone e ligar para algué e perguntar tão smente como estás? O que falta então, pegar no telefone e convidar aquele amigo(a) com quem não falamos á muito tempo e marcarmos um café para pôr a conversa em dia. Este tipo de atitude ajuda quem recebe o telefonema como quem o faz. Numa época em que tudo nos é roubado, não deixemos que nos deixemos roubar pelo esquecimento daqueles de quem mais gostamos. Tal e qual com a espuma das ondas que aparece e rápidamente desaparece, vamos pensar em quem hoje merece a nossa atenção.