Sem abrigo

Por força das circunstâncias atravessei hoje de manhã bem cedo,a minha cidade do Porto com uma tranquilidade que não me é habitual. Gostaria de possuir o elixir para prolongar este estado de alma por tempos infinitos. A forma vagarosa com que tive a oportunidade de vaguear pelo centro da cidade permitiu-me "ver" a minha cidade com mais detalhe do que aquele que me é habitualmente permitido. A cidade do Porto é uma cidade pequena, com uma arquitetura ímpar e recheada de gente boa. No entanto hoje não gostei do que vi. Aquela ideia que todos nós temos sobre o empobrecimento do país permitiu-me verificar o multiplicar de homens e mulheres que dormem na rua à porta de estabelecimentos comerciais. Torna-se impressionante o numero de casos de sem abrigo que povoam de manhã bem cedo as entradas das lojas, dos prédios envoltos em cartões e alguns cobertores que mais não fazem do que proteger do frio mas deixando passar a chuva que incessantemente caía sobre a cidade logo pela manhã. Este não é o meu Porto. As gentes do Porto não são assim, ou pelo menos não eram. Esta cidade erguida ás custas de gente de trabalho, de gentes de garra, sem papas na língua não trata assim os seus. Talvez o desemprego generalizado que teima em ser maior na região norte do País explique alguma coisa. Esta visão perturbadora de sem abrigo que começam a repovoar a cidade é inadmíssível. A declaração universal dos direitos do homem não passa de um papel assinado cheio de boas intenções escrito na época por gente com ideais, mas que no tempo em que vivemos não é reconhecida pela maior parte dos nossos governantes. O direito à dignidade humana, o direito ao trabalho, o direito a ter um teto são palavras vãs. Triste mundo este.

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