Uma Tristeza no Olhar

Vivemos tão ocupados com as coisas que dizemos serem nossas que poucas vezes olhamos para o lado. Ontem à noite fui obrigado a isso. Olhar para o lado, para a frente... a toda a volta. Aconteceu num jantar de aniversário e de beneficência de uma instituição que acolhe crianças e jovens, e tenta lhes oferecer um lar que nunca tiveram. Que se propõe a superar a instabilidade que viveram até então. E consegue. Foi aqui que percebi a tristeza no olhar que muitas crianças têm. E a forma com que essa tristeza os acompanha quando se deitam, à noite, e quando falta a mão meiga de um pai que lhes aconchega o lençol. Como se eu não soubesse o que isso é, a minha maneira. Uma família estruturada, as zangas... eles querem também as zangas. Este olhar que nos lançam atravessa-nos. É por demais evasivo. Sentado, à mesa, deixado sozinho por todos que se dirigiram às sobremesas, ouvi as vozes que romperam o silêncio. E essas vozes nunca saíram do olhar de quem as tem. Queria chorar, mas não podia. Aprisionei-me no que estava a sentir... E agora? Fui  então abordado por um homem de 7 anos... brincou comigo... mas nunca deixou de me olhar nos olhos. Fixamente. Disse-me tantas e tantas coisas, mas só eu as pude ouvir. Esvaziou-me a alma... e de seguida adormeceu, a mascar uma pastilha elástica, ao colo de quem o faz sentir bem. Queria leva-los a todos. Dar-lhes tudo o que merecem. O que deveriam ter... O que é deles por direito. O amor e carinho que é propriedade de uma criança. Gostava um dia que a minha vida fosse só isso, como se 20 ou 30 filhos tivesse... pois existem muitos e tantos em que a vida é fazer totalmente o contrário.

1 comentário:

  1. Não, não vivemos tão ocupados assim. Não queremos é ver aquilo que nos salta aos olhos. A vida, a sociedade em que vivemos não tem lugar para os pobres, para os que se lamentam, ou para aqueles que nada têm. Poucos são os que têm sensibilidade para encararem estas questões olhos nos olhos. É nestas ocasiões, que nos damos conta que de facto muitas das vezes damos demasiada importância aquilo que não tem importância nenhuma.
    Obrigado

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